Compartilhei recentemente com as seguidoras do “Amamentar é...” uma entrevista do canal de notícias “OMNI Focus Portuguese” com a consultora em Aleitamento Materno Camila Motta Leal.
A entrevista teve um impacto forte em mim, especialmente por causa de uma resposta que a Camila deu à entrevistadora quando lhe é perguntado qual são os benefícios da amamentação. Pergunta clássica, diga-se de passagem!
Mas o que acontece é que a consultora, como ela mesma diz, faz um convite a uma inversão de perspectiva, e a partir daí ela diz o seguinte:
“- Na verdade o leite materno, por assim dizer, não confere nenhum “benefício” à saúde, ele garante a continuidade do desenvolvimento humano normal e biológico. O leite humano é um tecido vivo e dinâmico, como o sangue, ele vai tecer essa relação complexa entre mãe e bebê, não só provendo calorias mas também ajudando na maturação dos sistemas imunológico, nervoso, hormonal, emocional, neural... Na falta disso, quando essa orquestração fisiológica é interrompida, aí sim, a mãe e o bebê ficam expostos à riscos de saúde à curto, médio e longo prazo.”
Nós humanos nascemos extremamente vulneráveis e inacabados, por isso o alto nível de dependência que temos em relação a quem nos recebe aqui fora. Não sobrevivemos se não formos cuidados, alimentados, aquecidos, estimulados... Fisiologicamente não estamos prontos. Nosso cérebro ainda está em processo de desenvolvimento, assim como nosso aparelho digestivo e todos os sistemas que ela cita estão ainda em formação. Este fluido humano, que se equipara ao sangue, como ela mesma diz, e que tem o papel de continuar levando do corpo da mãe ao do bebê o que é necessário para que este se desenvolva em sua plenitude é o que chamamos de leite materno e que tão facilmente substituímos por uma coisa enlatada.
A Camila nos abre o olho para o fato de que o leite humano não é algo que vem de fora e distribui benefícios para os que o escolhem, ele na verdade é uma etapa de algo que já vinha acontecendo dentro do ventre materno e precisa que seja continuado.
Interessante pensar como fomos capazes de separá-lo. Como fizemos dele algo estrangeiro ao nosso corpo e à nossa fisiologia...
E assim nossa cultura fez dele algo descartável.
Pensei muito no que essa moça disse...
Sempre, é claro, compreendendo o contexto contemporâneo e todos os obstáculos que saltamos para viabilizar o Aleitamento Materno em nossas vidas.
Como ela mesma diz no final de sua entrevista, se uma mulher deu o peito ao seu bebê, independente de por quanto tempo, ela amamentou. Ponto pacífico.
Mas deixo aqui essa reflexão: afinal o que é o leite materno, para além do que vemos e construímos ao seu redor em termos de cultura e representações?
from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Colunistas/Chris-Nicklas-Amamentar-e/noticia/2018/09/o-leite-humano-e-um-tecido-vivo-e-dinamico-como-o-sangue.html