Segundo levantamento da Academia Americana de Pediatria (AAP), os ferimentos relacionados a andadores infantis diminuíram 22,7% nos 4 anos após a implementação do padrão de segurança obrigatório nos Estados Unidos, em 2010, que exige que os andadores sejam mais largos que uma porta padrão e tenham dispositivo de frenagem, por exemplo.
Um sistema de vigilância em segurança, que obtém dados de 100 hospitais norte-americanos, registrou que cerca de 230 mil crianças com menos de 15 meses de idade foram tratadas por lesões relacionadas a andadores entre 1990 e 2014, o que corresponderia a uma média superior a 9 mil ao ano. O número vai ao encontro da posição da AAP em pedir a proibição da fabricação e venda do acessório no país.
Mais de 90% dos incidentes documentados envolveram lesões na cabeça e pescoço – 37,8% envolvendo fratura de crânio –, sendo que a causa mais comum foi a queda de escadas. Outras causas incluem o capotamento do andador e lesões relacionadas à criança puxando ou tocando um objeto que lhe representa perigo, alcançável apenas com a ajuda do dispositivo.
A coordenadora nacional da ONG Criança Segura, Gabriela Freitas, reforça a importância de um estudo dessa magnitude sobre acidentes com andadores, o que ainda não foi feito no Brasil. “Ainda tem gente que usa, afinal, ele continua sendo fabricado. O que eu sinto por meio do contato com as famílias é que já temos muitas pessoas que sabem que é proibido e perigoso, mas ainda há quem defenda, o que está relacionado ao acesso à informação e ao alcance das campanhas”, explica.
Do ponto de vista de acidentes, são dois os principais motivos para o uso do andador não ser recomendado pela ONG: a criança ficaria vulnerável à questão de capotamento e, como ficaria mais rápida, teria acesso facilitado a outras áreas da casa, potencialmente perigosos, como escadas, por exemplo. Fora isso, ainda há toda a questão de saúde, com muitos estudos indicando que o andador não tem qualquer papel real no desenvolvimento motor.
"Muito pelo contrário. A criança adquire uma pseudo-segurança de que consegue andar, mas quando tiramos o andador, vemos que ela cai muito mais, porque teve seu desenvolvimento natural perturbado", explica Eduardo Juan Troster, pediatra no Hospital Israelita Albert Einstein. "Mas a principal preocupação não é nem com um possível prejuízo no desenvolvimento e, sim, com o fato de o andador aumentar o risco de um acidente quando não há benefício algum envolvido", afirma.
Em 2013, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) lançou a campanha "Pela proibição dos andadores", solicitando ao Congresso Nacional que tal produto não fosse comercializado no País. Na sequência, a Justiça de Passo Fundo (RS) expediu liminar proibindo a comercialização de 1 dos 4 modelos disponíveis no mercado, o tradicional (confira no quadro abaixo). No entanto, a liminar acabou suspensa, pois os desembargadores da 16ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado entenderam que não cabia à Justiça de Passo Fundo pronunciar-se sobre o assunto.
Em julho de 2015, o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) analisou 10 marcas de andadores, nacionais e importadas, disponíveis no mercado brasileiro, e nenhuma delas passou no teste. A proibição da fabricação, venda e utilização de andadores infantis em todo o território nacional é pauta do Projeto de Lei Nº 4926/2013, ainda parado no Congresso Nacional.
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