"Sempre quis ser mãe por adoção. Para mim, não era um sonho ter um filho biológico. Quando dizia que não tinha vontade de engravidar, as pessoas perguntavam o por quê e eu dizia que era uma questão de valores, não tinha nada a ver com o ganho de peso ou das mudanças do corpo. Quando conheci o Giuliano, meu marido, logo disse que não tinha sonho de ficar grávida. Ele não viu problema nisso.
Casamos, compramos um apartamento e a primeira coisa que arrumamos na nossa nova casa foi o quartinho da nossa filha. Ainda nem estávamos na fila de adoção, mas já sabíamos que teríamos uma menina. Colocamos prateleiras, contratamos o pintor e deixamos tudo pronto. Quisemos fazer tudo rápido porque não sabíamos quanto tempo ia demorar para a nossa filha chegar. Na gestação você tem 9 meses para se preparar, mas eu achava que teria menos tempo que isso. Por dois anos, o quarto ficou montado e fechado. Pensamos várias vezes em desistir e fazer uma sala de jogos ali. Meu marido então pediu que entrássemos logo com o processo de adoção.
Enquanto ainda estávamos na fila, criamos um “nome fictício” para a nossa filha. Ela se chamava Natasha Kelly. Criamos um álbum no Facebook e pedimos para nossa família e amigos tirarem fotos com plaquinhas contando como estavam ansiosos com a chegada dela. Criamos até a hashtag #vemnatasha. Todos sabiam que a gente queria adotar e a maioria deles nunca foi contra. Mas a família do meu marido sempre teve um pé atrás com essa nossa decisão, diziam que era coisa da minha cabeça. Aos poucos, foram se acostumando com a ideia. Começou com “eles vão pegar para criar”, evoluiu para “eles vão adotar” e no fim viviam perguntando “cadê a minha neta?”.
No dia 29 de outubro de 2015, depois de dois anos de espera, finalmente recebemos a tão esperada ligação. Descobrimos que seríamos pais de uma menina de 3 anos e 9 meses que, por coincidência, tinha Kelly no nome. Ela foi registrada como Maya Kelly.
Na terça-feira seguinte, fomos conhecê-la. Achei que fosse chorar o tempo inteiro, mas consegui me controlar. Entramos na sala e ela sentou no nosso colo, trazendo um álbum com as nossas fotos. Quando perguntamos quem eram aquelas pessoas, ela apontou para a foto do meu marido e disse “é o meu pai”.
Depois que ela veio para casa conosco, a adaptação foi longa e a Maya passou por várias fases diferentes. No começo, tudo era lindo. Depois ela começou a falar como um bebê. Até que começaram as agressões, ele me mordia, me chutava. Foi bem difícil. Ela estragou quase todos os brinquedos que tinha ganhado, mas hoje está super bem. Às vezes, pergunta sobre a “mãe de verdade”, mas explico e logo ela entende. Esses dias mesmo ela me disse que a "outra mãe" deveria ser muito gentil, porque sabia que estava doente e deu a bebê para que o juiz entregá-la a uma família que queria uma menina.
A Maya não conheceu os genitores. Ela saiu do hospital e foi direto para o abrigo. Mas se um dia quiser conhecer os pais biológicos, vamos dar todo o acesso. Sabemos que não é a genética que nos torna mais ou menos pais. A questão genética define a cor dos olhos, da pele e só. O mais importante é o tempo que ela passa com a gente e os valores que a gente transmite. Hoje eu sou super realizada. Sempre quis ser mãe e isso não significa necessariamente gerar filhos, não acho que tenha que ser por vias biológicas. Para mim, a adoção nunca foi um plano B."
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