"Quando soube que estava grávida, eu não sabia quase nada sobre o universo da maternidade. Mesmo buscando tanta informação e participando de vários cursos durante a gestação, saí do hospital chorando por não saber como faria na minha casa, sem o auxílio das enfermeiras.
Sou casada, tenho cinco irmãos, mãe… Minha família é grande e, mesmo assim, me senti totalmente sozinha nessa fase. Depois que voltei para casa, cada um retomou sua rotina e ninguém tinha a iniciativa de oferecer ajuda ou perguntar se eu estava bem. Custou para que entendessem que eu precisava de atenção. As pessoas pensam que se você tem família, a ajuda é garantida. Mas vi que isso não é verdade. Ter família por perto não significa que alguém vai te apoiar.
No começo, não tive apoio sequer da minha mãe ou do meu marido. Ela se preocupava em cuidar do meu pai, que estava doente. Ele só pensava em trabalho, em conseguir dinheiro para criar nossa filha e acabou esquecendo de todo o resto. Ele saía cedo para ir à empresa eu ficava em casa sozinha, depois de noites inteiras acordando para amamentar, fazendo o bebê arrotar e dormir de novo. Eu ficava tão esgotada que sequer conseguia ter energia para preparar um café da manhã para mim. Teve dias que eu fique até 15h sem comer por causa disso.
Quando a Eva, minha filha, completou quatro meses, perdi meu pai. Minha vida virou de ponta-cabeça: tinha que dar conta da minha tristeza, da casa, da família, do bebê… Eu entrei em um estado de ansiedade tão grande, que a minha filha começou a sentir os efeitos disso. Agradeço às professoras da escola que me avisaram que ela estava arrancando os cabelos porque também estava ansiosa. Foi aí que encontrei um grupo de mães do meu bairro, o “Mães do Castelo”. Quem me apresentou foi a Vanessa, uma mãe que também se sentia sozinha e decidiu criar uma rede de mulheres na região. Lá eu pude expor a minha situação, ser abraçada e ver que algumas mães tinham problemas muito, mas muito maiores que os meus.
No grupo, recebi a indicação de profissionais que poderiam ajudar o problema da minha filha. Fui até a pediatra Débora Luar, que logo recomendou o tratamento com a psicopedagoga Natacha Galante Braz. Elas me ajudaram muito nesse processo. No começo, meu marido foi contra e disse que não iria pagar psicóloga para uma criança que mal sabia falar. Mas dessa vez minha mãe e meu irmão resolveram me ajudar a bancar as sessões de terapia. Depois de quase um ano de tratamento, conseguimos com que ela parasse de arrancar os cabelos - mesmo ela sendo um bebê que ainda estava aprendendo a andar e a conversar.
Até hoje o grupo de mães é muito importante para mim, participo de encontros, grupos de orações, festinhas de Carnaval e sempre sou muito bem recebidas por todas do bairro. Atualmente eu tenho mais serenidade para falar sobre tudo que aconteceu. As pessoas dizem que as mães precisam pedir ajuda, mas às vezes não fazemos isso por medo de incomodar. Por isso eu sempre digo: apoie as mulheres próximas a você. Não é porque elas não pediram ajuda abertamente, que não precisem de atenção e carinho.”
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