Monday, May 21, 2018

“Ser mãe é que é problema; pai, não é”, diz Manuela D’Ávila sobre incômodo causado pela presença da filha Laura

Manuela e a filha em foto usada para ilustrar o post (Foto: Reprodução Facebook)

 

Segundo um contador de palavras publicado por um jornal de circulação nacional nesta semana, Manuela D’Ávila fala mais de machismo do que qualquer outro assunto em sua conta no Twitter. Em matéria do último dia 15 no jornal britânico Financial Times, ela é descrita como a candidata feminista da corrida eleitoral de 2018. No perfil que a pré-candidata à Presidência da República pelo PCdoB mantém no Facebook, além de questões feministas gerais estão sempre em pauta notícias, denúncias e desabafos relacionados à maternidade. Não faltam fotos de mãe e filha: Laura, que completa 3 anos em agosto e frequenta a creche, acompanha a mãe em viagens mais longas e em sessões da Câmara desde pequena - ela passou pelo desmame entre março e abril últimos. Nessas postagens específicas, mãe e filha recebem comentários que passeiam entre o machismo e a misoginia. Nas redes sociais, como na vida: não faltam pitacos sobre a criação de Laura. (Confira montagens dessas imagens e comentários ao longo da página).

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“Me perguntam: ‘Tu não tem uma avó pra deixar?’. Não. Minha mãe trabalha e minha sogra é aposentada e elas já criaram filhos. Isso é perpetuar o trabalho das mulheres com a maternidade”, diz a deputada estadual do Rio Grande do Sul, que também atua como Procuradora Especial da Mulher na Assembleia Legislativa. Em março, ela publicou um textão indignado no Facebook depois de ser questionada por um repórter homem sobre a presença de Laura na viagem que ela fazia ao Espírito Santo. “Nunca vi um homem, uma única vez, ser questionado a respeito de responsabilidade sobre seus filhos em casa - ser mãe e que é problema; pai, não é”, declara.

Manuela e Laura: foto de 17 de abril marca um mês de desmame gentil (Foto: Reprodução Facebook)

 

Em conversa exclusiva com a CRESCER, Manuela fala sobre a ocupação de espaços públicos pelas crianças; opina sobre o lugar relegado às mães no ambiente profissional, em especial o político, e revela como divide os cuidados de Laura com o marido, o músico Duca Leindecker, que também é pai de Guilherme, 15.

Críticas sobre a maternidade

“O sistema de cuidado é uma forma de prender a mulher em casa. Ela precisa dormir todos os dias lá; a rotina da mulher é estabelecida a partir disso. Me perguntam: ‘Tu não tem uma avó para deixar?’. Não. Minha mãe trabalha e minha sogra é aposentada e elas já criaram filhos. Isso é perpetuar o trabalho das mulheres com a maternidade. Me perguntam ‘por que ela não está na escolinha?’. Se eu viajo sem a minha filha, é preciso pensar que alguém precisa fazer o feijão que ela vai comer. E quem vai fazer? Ora, a mera administração da rotina da criança também demanda muito trabalho. E quem faz isso? Cai do céu? A equação tem como resultado o fato de que a Laura não pode estar ali comigo. Então não posso estar ali também, porque não posso ficar sete dias por semana longe de uma filha que eu planejei ter. Sem contar que há uma abstração completa de que todos os adversários têm filhos. Nunca vi um homem, uma única vez, ser questionado a respeito de responsabilidade sobre seus filhos em casa - ser mãe e que é problema; pai, não é.”

Sobre crianças em ambientes públicos

“Laura é absolutamente saudável, desenvolvida e feliz. E sabe se comportar justamente porque frequenta espaços públicos. Não sinto culpa de estar com ela nesses momentos, pois maternidade não é sacerdócio. Não saio por aí desfilando enquanto alguém fica dentro de casa cuidando dos filhos. Estranheza me causa é que a presença da Laura seja estranha às pessoas. E esse estranhamento é machismo. Quem tem que abrir mão são sempre as mulheres, enquanto os pais que ficam com os filhos são heróis. Tem outra coisa que médicos com quem convivo me fizeram perceber: é vendida a ideia de que criança se desenvolve num só ambiente, asséptico, trancada na escola. Na Inglaterra se estimula a entrada da criança na creche só a partir dos 4 anos. Aqui o padrão é resolver a vida da mulher botando a criança na creche.”

Postagem para comemorar o Dia das Mães (Foto: Reprodução Facebook)

 

Divisão de tarefas com o pai

“Tenho privilégios, pois tenho a creche e conto com meu marido na participação dos cuidados com a Laura. Uma das razões pelas quais me apaixonei por ele foi a maneira como ele exerce a paternidade. Duca já tinha a guarda do Guilherme quando começamos a namorar. Ele é responsável por mudar meu jeito de refletir sobre a maternidade, a amamentação, o tempo de desenvolvimento e de estímulos do bebê, e também da frequência da criança em ambientes públicos. Duca já tinha visão avançada dos seus papéis. E adora ficar com a Laura. Minha única viagem mais longa sem ela foi de seis dias, para Portugal. Eu ligava e ele dizia, em êxtase: ‘Tá tudo ótimo, ela nem pergunta de você’ [risos].”

Sobre o episódio que resultou no desabafo no Facebook

“Foi uma decepção. Via de regra, imaginava que por viver em uma sociedade machista a reação seria o inverso: de sentir culpa quando não estivesse com a minha filha, ou por sair 4h30 da manhã e chegar 1h30 da manhã do outro dia em casa. Como candidata, não trabalho oito horas por dia. Fui me dando conta, com esse episódio, de que as pessoas não notam quando não estou com a minha filha. Mas essa não é a maternidade que me propus a exercer. Digo no texto: qualquer pai ou mãe sabe que é mais tranquilo trabalhar sem o filho. Dá para dormir no avião. Com ela junto, tenho que brincar de massinha o voo todo.”

No gabinete e na Procuradoria Especial da Mulher

“Vivo a maternidade ideal. No meu caso, trabalho e espaço público se fundem. Há quatro bebês no gabinete e eles eventualmente vêm para cá. Cada mãe montou seu esquema de cuidado e elas trabalham remotamente se eles ficam doentes. A Laura não vem mais porque já tem creche. Na Procuradoria da Mulher criamos um ambiente mais humano, ainda que improvisado, com alguns brinquedos, piscina de bolinhas. Quando fazemos um convite, colocamos a observação: ‘Crianças são bem-vindas’, pois, às vezes, os seminários acontecem de noite. Se a gente expressamos que elas são bem-vindas, as mães acham que estão no lugar errado; sentem-se envergonhadas e reprovadas. Quem recebe os cidadãos e cidadãs, precisa receber as mulheres e as crianças.”

Foto de 25 de abril: uma das poucas vezes em que Manuela retrucou cometário machista (Foto: Reprodução Facebook)

 

Mulheres na política

“Na média, nós mulheres somos coisa de 10% na política. A primeira barreira é chegar lá, nas cabeças. Mas por qual razão lógica as sessões no Plenário começam às quatro horas da tarde? Porque ninguém precisa pegar os filhos na escola, talvez. Numa sociedade em que há milhões de crianças sem registro – não é eventualidade de que falo – esse é um ambiente que pune as mulheres.”

Sobre políticas públicas

“Acredito que o Estado tem que cumprir com uma parcela da responsabilidade, que é fornecer a creche. A não-existência das creches é uma punição para nós. Existe um conjunto de medidas que quero propor, como a de o governo não contratar empresas que não remunerem igualmente mulheres e homens. Proibir questionar, em entrevistas de trabalho, se as mulheres têm filho. Estamos debatendo com juristas e economistas a proposta de uma renda mínima parental para a criança, e não pai e mãe, a ser ativada em caso de desemprego de um dos dois.”

+ Em entrevista de emprego, mãe é inquirida diante de candidatos: “Faltaria ao trabalho se o filho ficasse doente?”



from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Voce-precisa-saber/noticia/2018/05/ser-mae-e-que-e-problema-pai-nao-e-diz-manuela-davila-sobre-incomodo-causado-pela-presenca-da-filha-laura.html

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