A beauty stylist Fernanda Amatuzzi, 40, de Embu das Artes (SP), teve uma gravidez tranquila. O parto foi natural, do jeito que ela sonhara. Ela sabia que os primeiros meses com um bebê em casa seriam difíceis, mas não tinha ideia do quanto o período poderia ser solitário também.
“No início tive o apoio do meu marido. Ele tirou férias no primeiro mês depois do nascimento da minha filha e, nos dois meses seguintes, trabalhou bem pouco. Então, esteve bastante presente nessa fase”, recorda a mãe de Aurora, 1 ano e 4 meses. Como a família mora na capital, a uma hora de distância do condomínio para onde ela se mudou há alguns anos, Fernanda ficou, literalmente, afastada de todos. “Para piorar, na primeira semana da minha filha tive uma espécie de ataque de ansiedade. Eu cismei que ela iria se engasgar. Então, acha que tinha de velar o bebê o dia e a noite inteira. Não conseguia relaxar nem por um minuto”, conta.
O temor passou depois de algumas semanas. O problema foi que, na sequência, o marido, que é engenheiro de som, voltou à rotina de trabalho - o que incluía muitas viagens. “Não temos babá, nem empregada. Tive de dar conta de tudo sozinha a partir daí. E como Aurora acordava a cada duas horas, hábito que manteve por todo o primeiro ano de vida, o cansaço só aumentou”, diz.
Fernanda, se fechou em seu “microcosmo”, como costuma falar. Antes da gravidez, ela achava que isso seria bom, de certa forma, já que a família também precisa de privacidade nesse momento. “A maioria dos meus amigos não tinha filhos. E, como eu parei de frequentar os antigos programas por causa do bebê, acabei ficando isolada mesmo. Muitos ainda diziam, sem pensar, ‘nossa, você está sumida’.” Houve uma amiga dos tempos da escola, no entanto, que achou um espaço na agenda para encontrar Fernanda. “Mesmo com filhos e um dia a dia corrido, a Renata [Natacci] me ligou e disse que queria ver como eu estava. Deixou claro que era a mim que ela veio visitar, não apenas a Aurora. Engraçado que outras amigas mais próximas não tiveram a mesma sensibilidade, provavelmente porque ainda não têm filhos. Foram poucas horas, porém aquele encontro significou muito para mim. Eu me senti acolhida”, relembra Fernanda, emocionada.
Renata estava retribuindo, na verdade, uma visita que a amiga havia feito anos antes, quando ela se encontrava nessas mesmas condições - ou seja, sem tempo e com um recém-nascido em casa. “Eu tinha o hábito de visitar as amigas com bebês, como sou cabeleireira, para oferecer um corte de cabelo, um bate-papo. Hoje tenho a noção do quanto isso significa para uma mãe que está se sentindo enclausurada”, acredita.
Aos poucos, Fernanda, que é autônoma, está retomando a vida profissional. “Voltei a trabalhar duas vezes por semana. Mas ainda me sinto às vezes, algo difícil de admitir e, para os outros de entender. Só quem é mãe sabe o que é isso”, desabafa. Como discordar?
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