Recentemente, ao assistir a uma explanação do palestrante, escritor e psicólogo clínico Rossandro Klinjey, uma frase passou a me acompanhar. Ele contou que, no ano passado,
no Brasil, 1 milhão de pessoas cometeram suicídio, e 25 milhões tentaram se matar. E completou: “Discute-se tanto sobre violência, mas se pararmos para pensar um pouco, é mais fácil perder alguém em casa do que na rua. Há alguns anos não havia relatos de crianças que tentavam o suicídio, mas hoje esse é um tema recorrente entre os especialistas, que tentam entendê- lo e combatê-lo”.
Que modelo de vida é esse que estamos levando? O que faz alguém tirar a própria vida? Como isso chega a uma criança? Aí está mais um tema para a nossa atenção e tensão. O olhar sobre os nossos filhos, seus incômodos, angústias, preparos e despreparos, nos impulsiona a pensar num modelo de criação para as nossas crianças. O quanto o tipo de vida que levamos colabora para o fortalecimento ou o enfraquecimento emocional e psíquico das nossas crianças? Temos mais tecnologias, babás eletrônicas, iPads e celulares para presentear nossos pequenos e entretê-los. Podemos levá-los ao shopping, onde eles vão se distrair enquanto nos ocupamos com algo.
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Tudo isso pode ser um auxílio, mas se não estivermos atentos, pode ser algo que nos afasta também. Podemos, sim, evoluir sem nos abandonarmos. Quando menciono o abandono falo dos momentos que ficam na nossa memória e que nos fortalecem emocionalmente. Meus pais trabalhavam muito, nem sempre tínhamos oportunidade de estar juntos, mas me lembro dos abraços carinhosos, dos olhares afetivos e de perceber como eles se importavam se eu estava bem ou não. E de oferecerem um ouvido para eu compartilhar minhas dúvidas e angústias. Nem sempre os procurava, porque a timidez me habitava, mas eu sabia que ali, na hora em que não tivesse mais a quem recorrer, podia contar com eles.
Outra coisa que havia na minha infância eram opções muito menores do que as crianças têm hoje. Não eram muitos os lugares para ir, mas nos locais mais simples, como a casa de um tio, um amigo ou uma praça, eu encontrava possibilidade de me fortalecer. Sentado na frente da casa do meu pai, todas as noites conversando com os meus amigos, imaginando, planejando, sonhando, tinha uma rede de relações que me fortalecia. A gente se olhava nos olhos, se reconhecia e desconhecia, mas convivíamos.
Hoje, vivemos um tempo da fadiga de escolhas. É tanto excesso que acaba virando falta. Se reconhecer, se relacionar, encontrar acolhimento, saber que pode ter dúvidas e pode se frustrar, mas que há caminho ou que existe mecanismo para lidar com as frustrações é algo que também nos fortalece. Isso é vida e dá sentido à vida – o que gera razão para se viver. Que possamos ter sabedoria para estarmos juntos e fortalecermos nossos pequenos e pequenas.
LÁZARO RAMOS É ATOR, APRESENTADOR, DIRETOR E ESCRITOR, CASADO COM A ATRIZ TAÍS ARAÚJO E PAI DE JOÃO VICENTE, 7 ANOS, E MARIA ANTÔNIA, 4
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