Não sei se já falei disso, mas, desde pequena, nutro uma relação com a literatura e a escrita. Sobretudo com poemas. Durante minha juventude, adorava passar horas escrevendo poemas. Ainda mantenho o hábito de ler poesias. Foi assim que, esses dias, encontrei um poema maravilhoso escrito por Ruth Bebermever que se chama Palavras são janelas ou são paredes. Esse poema nos ajuda a atender o que podem ser algumas consequências quando não usamos bem nossas palavras e como elas podem tornar nossa comunicação complicada com aqueles que nos cercam.
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Logo depois de ler esse poema, comecei a pensar que a dificuldade de comunicação não pertence apenas ao mundo das relações adultos-adultos, mas também ao das relações adultos-crianças. À medida que cresce, a criança fica melhor ao falar sobre como se sente. Mesmo tendo crescido, ainda precisa de seus pais para ajudá-la a entender e expressar suas emoções. Ao se comunicar com seu filho, você está ouvindo as emoções dele e responde à necessidade que ele tem de compartilhá-las. É dessa forma que você diz a ele que isso é importante para você.
Durante um dia na escola, uma criança acumula certas tensões. Às vezes, ela precisa manter suas emoções em segredo e administrá-las sozinha. Na verdade, ela nem sempre se sente à vontade para falar sobre seus sentimentos com o professor ou com os amigos. Até porque, às vezes, o momento não é adequado para isso.
Por isso, é importante que seu filho saiba que ele pode encontrar em casa tanto um lugar de fala quanto de escuta. Saber disso, faz com que a criança desenvolva um sentimento de segurança emocional. Mas isso só pode acontecer se as janelas da comunicação, que utilizam a linguagem verbal e não-verbal, estiver aberta entre as crianças e os pais.
É por meio da comunicação que você pode desenvolver um relacionamento positivo com seu filho. Quando você o ouve, constrói nele a autoconfiança e o ajuda a confiar nos adultos. Ele, então, reconhece seu próprio valor, pois vê que você está interessado nele e no que experimenta.
Ao estabelecer uma comunicação aberta e honesta com seu filho, ele falará mais facilmente sobre as coisas importantes que estão acontecendo em sua vida. Da mesma forma, você ficará mais confortável no dia em que for necessário abordar assuntos mais delicados. De fato, se seu filho souber que pode expressar sua experiência e os desafios que enfrenta com você, ele estará mais inclinado a verbalizar suas necessidades e preocupações, além de fazer perguntas.
Talvez, agora, você esteja pensando em como fazer essa comunicação fluir melhor. Eu sei que essa tarefa requer um certo esforço, então, não se preocupe se você já tentou e viu que não é algo simples. Deixe-me dizer uma coisa: tudo bem, até porque você não é a única pessoa a passar por essa experiência. É verdade que, depois de entrar na escola, seu filho pode se expressar melhor. No entanto, outros desafios podem complicar a comunicação.
Por exemplo, algumas crianças parecem não ter nada a dizer. De fato, mesmo crianças em idade escolar têm dificuldade em responder a uma pergunta vaga como "O que você fez hoje?" Essas perguntas são muito genéricas, então, em vez disso, que tal usar perguntas do tipo:" Qual foi a parte da aula que você mais gostou?” ou “O que você menos gostou da aula hoje e por que?” Faça perguntas abertas em vez daquelas cujas respostas são simplesmente 'sim' ou 'não'. Se seu filho não conseguir se lembrar como foi o dia, ajude-o colocando marcadores de tempo como momentos diferentes da escola: recreio, o momento dos esportes, sala de computação, etc. Por exemplo, pergunte a ele: "Do que você brincou no recreio hoje?". Outra coisa que você pode fazer para inspirá-lo é começar contando a ele sobre o seu dia.
Uma outra maneira de desenvolver uma boa comunicação com seu filho é brincar. Que coisa simples, não?! O brincar permite que a criança se distancie da situação que a preocupa e explore soluções. Quando você brinca com seu filho, ele sente que você o está ouvindo e isso ajuda a reduzir o nível de estresse, abrindo a janela da comunicação.
Talvez você se pergunte agora: o que faço se meu filho se recusa ao contato e parece distante? Tranquilize-se, isso não significa que há algo de errado com você. De fato, uma criança pode se isolar porque tem medo de incomodar os pais que geralmente estão muito ocupados. Seu filho sabe que você estará lá para ele se perceber que você está disponível. Isso independe de você trabalhar muito ou pouco. Afinal, ser presente é diferente de estar presente. Minha sugestão, nesse caso, é que você reserve um momento da noite para estar com seu filho. Não se preocupe se você não terá tanto tempo como gostaria, porque sei que para pais que fazem dupla jornada, isso pode ser desafiador. Nesse contexto, queria lembrá-los de que constância é muito melhor que quantidade.
Meu convite, nessas linhas finais, é que você pondere tudo isso que acabou de ler e pense em como aplicar isso à sua realidade. Você poderia até pegar um pedaço de papel e escrever o que você gostaria de fazer diferente, por que uma coisa é certa: levando essas ideias em consideração, você poderá estar no caminho de abrir janelas e derrubar paredes, à medida que constrói um bom processo de comunicação com seus filhos e todos os outros membros da família.
Mônica Pessanha é psicanalista de crianças, adolescentes e mães. É co-autora do livro "Criando filhos para a vida". É mãe de dois, um que virou “estrelinha” e da Melissa, 13 anos.
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