Thursday, December 5, 2019

Dizer 'não' com empatia

Birra filhos (Foto: Getty Images)

 

 

Eu consigo me lembrar do cheiro do ovo frito que minha vó fazia. Ele cheira a manteiga. Mas meu avô não gostava que minha avó fritasse ovos com manteiga porque era caro. Como meu avô era muito cauteloso com as finanças da casa, ele reclamava muito com minha avó quando ela usava manteiga na comida. O que mais me faz lembrar daquele cheiro de ovo frito com manteiga é que, certa vez, enquanto minha avó estava na cozinha preparando nosso almoço, ela me disse que nem todo 'não' que recebíamos eram 'nãos' sem amor e que alguns deles viravam 'sins'. Eu aprendi, desde cedo, que bondade desenvolve empatia.

Muitas vezes, os "nãos" que damos aos nossos filhos acabam nos levando para a arena do conflito e do estresse. De um lado, estamos nós, os estabelecedores das regras e do outro, os nossos filhos. Esses, diante de uma resposta negativa, põem-se a gritar, chutar, dizer que não gostam mais de nós. Enfim, fazem de tudo para nos testar, na esperança de ver o "não" transformado em "sim". Nós, por outro lado, estamos ali na posição de mostrar quem realmente manda e quem tem mais força. Daí dizer "não" com empatia se torna um princípio muito importante para ter em mente quando vamos ter que dizer "não" aos pequenos.

A empatia é a capacidade de se colocar no lugar do outro e tentar entender como a pessoa se sente. Ela é uma maneira simples de se conectar ao outro. No caso das crianças, é como se mostrássemos a ela que sabemos que estão experimentando algum sentimento. Acredito que usar a empatia para dizer o "não" pode ajudar seu filho a se sentir mais compreendido, diminuindo a ansiedade e a aumentando a autoestima. Quando damos um "não" empático, acolhemos o desejo da criança, mesmo quando ele não pode ser atendido. Pelo menos, não naquele momento. Agir dessa forma, abre a possibilidade de a criança também acolher um "não" por outra perspectiva. Além disso, ele nos leva para longe da arena do conflito e do estresse.

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A criança precisa aprender, desde cedo, a viver a frustração. Isso a faz crescer e a torna forte. Dizer "não" é uma responsabilidade importante para os pais. Nossos "nãos" ensinam às crianças lições importantes sobre a vida e o convívio. Mas fico preocupada quando percebo que estamos desenfreadamente dizendo "não" sem empatia e "sim" sem nenhum critério aos filhos. Compreendo que, às vezes, isso acontece porque estamos correndo de um lado para o outro para dar nosso melhor. Tudo bem se você passa por isso, afinal pais possíveis também dão o melhor de si. Meu convite para você, hoje, é para passar a olhar para os "nãos" a partir desse lugar que estou lhe apresentando. Para ajudar você a colocar isso em termos práticos, aqui vão quatro sugestões:

1- Fale de sentimentos. As crianças precisam de um vocabulário emocional para discutir sentimentos e orientações para se tornarem emocionalmente fortes. Quando você diz "não" comunicando uma emoção, fica mais fácil para a criança compreender suas razões. Por exemplo: “Eu gosto muito quando vamos ao mercado juntos e você me ajuda a escolher os alimentos, mas fico preocupado(a) quando você pede coisas que não podemos comprar naquele momento".

2. Seja um professor de emoções. Encontre momentos naturais para conectar-se à criança, ouvir e validar os sentimentos de seu filho(a), enquanto aumenta a habilidade de lidar com as frustrações (converse com as crianças sempre sobre suas próprias experiências com os "nãos" recebidos).

3. Faça a bondade importar. Em vez de dizer: "Quero que você fique contente, mas agora não posso te dar esse brinquedo”, diga: "Quero que você seja gentil e devolva o brinquedo à prateleira agora. Posso te ajudar se você quiser”.

4. Lide com suas emoções também. Enquanto alguns pais podem não gostar de dizer "não", porque não querem ser 'maus', outros podem se sentir culpados por isso. É importante observar como você se sente quando diz "não", para poder lidar com seus sentimentos de maneira saudável e produtiva. Lembre-se de que não há problema em seu filho experimentar emoções desconfortáveis, como tristeza e decepção. De fato, quando você diz "não" aos pedidos do seu filho, você dá a ele a oportunidade de aprender a lidar com seus sentimentos de maneira socialmente apropriada.

Mônica Pessanha é psicanalista de crianças, adolescentes e mães. É co-autora do livro "Criando filhos para a vida". É mãe de mãe de dois, um que virou “estrelinha” e da Melissa, 13 anos. (Foto: Arquivo pessoal)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Colunistas/Monica-Pessanha/noticia/2019/12/dizer-nao-com-empatia.html

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