Um pouco ajudante, um pouco invisível. É assim que Lela Beltrão, 40 anos, premiada fotógrafa paulistana, age para conseguir alguns dos melhores registros de nascimentos do Brasil. O trabalho de parto, já se sabe, é uma engrenagem muito sensível, totalmente atrelada ao estado emocional da mãe. Um simples movimento ou a presença de alguém indesejado são suficientes para travar todo o processo e interromper a ação da ocitocina, hormônio que estimula a dilatação. O som do clique de uma máquina fotográfica é capaz de comprometer tudo.
Além de ter um silenciador na câmera, Lela fica sempre atenta. “Se percebo que estou atrapalhando, dou um passo atrás, dou um tempo. Espero, fico mais distante. É um registro diferente, a gente clica menos e fotos melhores”, explica. Por outro lado, para se integrar ao clima, ela quase passa a compor a equipe de atendimento. “Já cheguei a fazer massagens”, lembra a profissional, que evita que a mulher a veja com a câmera na mão o tempo inteiro, para interferir o mínimo possível. “Em primeiro lugar está a mãe, e depois a fotografia”, resume.
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Lela passou a se especializar no assunto em 2014, depois do nascimento de sua filha mais velha, Helena, 6 anos. Ela já trabalhava com fotografia, mas não de parto. No entanto, ao dar à luz sua filha, gostou tanto daquele ambiente que queria estar novamente ali, mas não planejava ter outro bebê tão cedo. Foi assim que entrou com tudo nessa área. Caetano, seu caçula, hoje com 1 ano, veio mais tarde. Foi premiada por uma associação internacional de fotógrafos e clicou partos de famosas, como a influenciadora de jornadas Rafa Brites, colunista da CRESCER, e a modelo e designer de joias Monica Benini, casada com o músico Júnior Lima.
Uma seleção de seu trabalho está no livro Nascer, lançado neste mês pela Editora Timo. São cerca de 200 fotografias, feitas em cerca de 50 partos humanizados. A obra foi realizada com financiamento coletivo e recebeu mais de R$ 48 mil de doadores pela internet.
INSPIRAÇÃO
Para a fotógrafa, estar em contato com esse universo todos os dias é uma forma de ativismo. “Aos poucos, a informação vai chegando para mais mulheres, mas é um trabalho de formiguinha. Muita gente ainda acha que parto humanizado é sinônimo de parto natural na praia, no mato, sem assistência. E não é nada disso!”, lembra.
E qual é o papel da fotografia nessa história? Essencial. “Sou ativista e luto para que cada vez mais mulheres possam ter apoio, respeito e empatia no seu parto. Que possam ter escolhas, e elas sejam respeitadas. Acredito que a fotografia é um agente de transformação. As imagens de parto são fortes. É difícil alguém passar indiferente por elas. Uma mulher, quando vê outra parindo, de alguma forma se identifica e busca informações para o seu próprio parto”, acredita. “Nesse livro, busco trazer a sensação de normalidade e naturalidade, no sentido fisiológico, para o parto, ampliando e despolarizando o pensar sobre o nascer”, conta.
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from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Gravidez/noticia/2019/09/fotografa-brasileira-lanca-livro-com-imagens-poeticas-de-parto.html