Sunday, September 15, 2019

"Discussão da paternidade é, na verdade, um legado do feminismo", diz especialista

Nova paternidade: homens mais participativos (Foto: Getty)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Em comparação com algumas décadas atrás, é maior, hoje, o número de homens que executam tarefas básicas dos cuidados com os filhos, como trocar fraldas, dar banho e acordar na madrugada, mas, de maneira geral, a rotina das famílias ainda é pensada pelas mulheres - e elas estão cansadas. Precisam, mais do que nunca, dividir as tarefas e responsabilidades. A nova parentalidade, em que os pais fazem a sua parte, já começou. No entanto, muitos deles continuam sem saber, ao certo, como exercer esse novo "papel". 

Esse foi um dos assuntos do VI Simpósio Internacional de Assistência ao Parto (Siaparto), realizado em São Paulo, na última semana. "Essa nova parentalidade ainda é mais restrita à classe média urbana, mas está começando a aparecer em outros recortes sociais e raciais do Brasil. Isso não quer dizer que outros homens não queiram ser pais amorosos e participar ativamente da educação de seus filhos. Mostra apenas que, em outros contextos, as influências mais patriarcais e machistas têm uma força que ainda acaba minando as possibilidades desses homens se abrirem. Então, eles são ensinados muito fortemente pela cultura a reprimir uma parte da vida", explica o psicólogo e terapeuta familiar Alexandre Coimbra Amaral. Em entrevista à CRESCER, ele falou mais sobre o assunto e deu dicas — bem simples, mas essenciais — de como os homens podem ser mais participativos no dia a dia.

+ Dia dos Pais: "Construí cozinha industrial e academia em casa para poder ficar mais tempo com eles", diz Rafael Cardoso

C: De onde vem a principal influência para essa mudança?
A: Essa onda está vindo das mulheres. Os homens estão embarcando nos debates sobre gênero promovidos por elas na sociedade. Toda essa discussão da paternidade é, na verdade, um legado do feminismo, que começa questionando as posições de gênero e isso chega nos homens. Dessa forma, nós, homens, também começamos a olhar para o nosso espelho — que está quebrado — em que a gente não se reconhece da forma como gostaríamos e merecíamos ser. Reconhecemos que podemos ser potencialmente violentos, que recebemos autorização de uma sociedade para sermos violentos, e passamos a perceber que ter que se conter na hora de se expressar e sentir afeto também é uma forma de violência contra a gente. Quando nos damos conta disso, começamos a nos questionar. E, agora, os homens que estão se fazendo essas perguntas começaram a se reunir em grupos presenciais e na internet. Eles estão conversando de uma forma diferente: chorando, permitindo-se, assumindo medos e vulnerabilidades. Tudo o que é negado socialmente ao homem, que precisa sempre se mostrar viril, dominador, conquistador, acumulador de patrimônios, de títulos, de carros... Então, todo esse estereótipo que é adoecedor para ele e para a sociedade está sendo quebrado e distruído por esses homens, que querem fazer diferente.

+ "Faço parte de uma geração que tem sede de liberdade e controle. Ter filho é perder tudo isso", diz Rainer Cadete

C: Quais transformações essa nova paternidade vai trazer?
A: Já começamos a questionar, por exemplo, a possibilidade de os homens saírem de seus espaços de trabalho para acompanharem as reuniões escolares, para levarem seus filhos ao médico, para compartilharem a paternidade com a companheira. Não mais depois do trabalho, mas durante. Pois, até então, a única que se sacrificava no trabalho e na carreira em benefício dos filhos era a mulher. Assumir a paternidade é assumir também esse ônus real de se criar filhos. Mas isso vem também com o bônus de o filho sentir que aquele pai está presente e tem interesse em ser íntimo da criança. Ela passa a sentir que tem mais uma pessoa em quem pode confirar. 

C: Com isso, os filhos passam a buscar também o pai nos momentos de crise?
A: Sim. Se a criança não busca o pai nos momentos de crise, é porque ainda existe uma lacuna. Confiança tem a ver com intimidade. A segurança emocional é construída na intimidade, e intimidade é tempo. Não dá para chegar, ficar dez minutinhos com o filho e achar que está tudo bem. Você tem um título, mas intimidade talvez você não tenha. E isso muda tudo. Se os dois forem íntimos, o filho vai buscar o pai também nos momentos em que precisa de ajuda. Por isso, o primeiro passo é criar intimidade para que o filho confie na gente. 

C: O que homens podem fazer para buscar essa nova parentalidade?
A: Primeiro, escute a sua companheira. Não intua e, sim, pergunte o que ela precisa. E se ela pedir algo que você não saiba fazer, aprenda. Segundo, quando for conversar com seu filho, revise a sua experiência de filho: reflita sobre o que você gostava e o que não gostava. Se você teve um processo na condição de filho que te fez mal em algum nível, permita-se buscar outras referências. Leve para a sua vida aquilo que deu certo, que você acha que dignifica a infância, e o que você acha que é violento, não tenha medo de assumir. A geração dos nossos pais pode ser muito violenta com crianças. Então, busque alternativas para construir uma forma de conversar e educar não violenta. E, por último, alinhe-se a outros homens que estejam na mesma busca. Converse e troque experiências. Busque esses grupos que estão espalhados pelo Brasil ou, então, crie um. Chame amigos para conversar e se abrir para o afeto da parentalidade. Acho que esse é um importante eixo de transformação.

 



from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Familia/noticia/2019/09/discussao-da-paternidade-e-na-verdade-um-legado-do-feminismo-diz-especialista.html

This Is The Way | Kids Songs | Super Simple Songs

✅ Clique!!! AMAZON PRIME de graça por 30 dias, músicas, vídeos, filmes infantis e FRETE GRÁTIS!!!