"Toda vez que alguém espirra, todo mundo diz: ‘Isto é alergia!’. Mas, quando o Raul espirrava, ninguém falava nada, porque ele espirrava tanto... que ficava roxo!” As crises de espirros são uma constante na vida do personagem Raul, o menino do livro Atchim? (Editora Positivo), de Gláucia de Souza. Não só na dele, mas na de muitas crianças e adolescentes. E o pior: não costuma arrefecer na vida adulta.
Enquanto as alergias alimentares e dermatológicas tendem a ser mais intensas na infância, diminuindo conforme a criança cresce, as respiratórias podem continuar com a idade. Marcada por rajadas de espirros como as de Raul e dificuldade para respirar, a doença tem suas formas mais comuns na rinite e na asma, caracterizadas pela inflamação das vias respiratórias. Enquanto a rinite provoca coriza, nariz entupido, coceira nos olhos e espirros, a asma provoca respiração ofegante, chiado no peito, tosse crônica e falta de ar. É importante distinguir: a asma induzida por alergia ocorre quando o corpo entra em contato com alguma substância alérgena (ácaros, pólen, mofo, pelos de animais), enquanto a não alérgica é desencadeada por fatores como ansiedade, estresse, exercícios físicos, ar frio ou seco.
Enzo Zanetti, 8, sofre de asma e rinite e teve sua primeira reação alérgica aos 9 meses. Depois de várias idas ao hospital e algumas internações, quando o nível de oxigênio no sangue estava abaixo do normal, descobriram-se os vilões da asma dele. “Tanto a poluição, poeira, pelos de animais e corantes quanto mudanças bruscas de temperatura e excesso de atividade física exigem atenção, pois desencadeiam crises”, diz a mãe do menino, a advogada Maria Emília Zanetti, 43.
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Ela explica que também sofre com quadros de rinite desde a infância, o que ajuda a entender o problema do filho. Crianças com pais e mães com rinite ou asma alérgicos têm pelo menos 50% a mais de predisposição genética para desenvolver a doença, de acordo com a Asbai. “Mas embora os fatores genéticos aumentem o risco, o filho pode virar alérgico mesmo que ninguém na família seja”, diz a pediatra Magali Lumertz, do Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre (RS). A possibilidade está relacionada a fatores ambientais, como a poluição, e também a outras doenças, como mostrou uma pesquisa recente do Journal of Allergy and Clinical Immunology. Os cientistas sugerem que há certa correlação entre obesidade e asma, inclusive na infância. Segundo os pesquisadores, crianças obesas são mais suscetíveis a alergia e têm mais resistência ao tratamento, que é feito geralmente com corticoides.
Outra opção de tratamento é a imunoterapia – aplicação de vacina injetável ao longo de três a cinco anos, com o objetivo de aumentar a tolerância às substâncias alérgenas. O problema são as picadas, que assustam. Um estudo publicado em 2018 por pesquisadores do Hospital Geral de Brighton, na Inglaterra, porém, trouxe a boa notícia: já está em testes a vacina via oral, com resultados semelhantes. “A imunoterapia é a única que pode mudar a história da doença”, garante o otorrinolaringologista Olavo Mion, professor da Universidade de São Paulo. “O único senão é que ela não funciona em algumas pessoas, e os estudos ainda não explicam o porquê.”
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O caminho é se prevenir, evitar o contato com os causadores dos espirros e tratar as crises, claro. No caso da rinite, menos grave, o indicado é lavar o nariz com soro fisiológico. Apenas essa medida costuma resolver. Caso contrário, o médico pode receitar algum outro medicamento. Já em relação à asma, o caminho é a bombinha, em geral à base de corticoides, que combate o fechamento dos brônquios, e deve ser prescrita por médicos.
Vale lembrar que a alergia respiratória pode melhorar muito na idade adulta. O professor de educação física Fábio Bernardo, 44, pai de João Pedro, 7, sofreu na infância e na adolescência com crises fortes de rinite e asma que acabavam com o uso de bombinha ou internações. Aos poucos, as crises foram diminuindo e hoje ele comemora não ter de usar mais nenhum medicamento. E, confirmando o dado desta reportagem de que cerca de 50% das alergias respiratórias são hereditárias, João Pedro também sofre com o problema, só que de forma muito mais branda do que o pai. “Felizmente nem se compara à minha, uma vez que eu vivi a infância inteira praticamente dentro de um hospital”, diz, aliviado.
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