Chega de quarto de bebê. Quando meu filho completou 3 anos, decidi que estava na hora de montar um quarto de menino maior para ele.
As cores pastel e a decoração de recém-nascido me dão até uma nostalgia e a sensação de que o tempo voa, mesmo. Então, é hora de aceitar que ele deixou de ser bebê e passou a ser uma criança.
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Escolhemos o tema “floresta”. Fizemos o projeto, fui mostrando tudo para ele no computador. O tapete de leão, a cama, as paredes. Ele amou uma poltroninha de jacaré. Estava tudo tão lindo! Em breve, ele ganharia um quarto completamente novo.
Eis que, em uma segunda-feira de manhã, acordamos e estávamos em casa brincando, como sempre fazemos, e me avisaram que o pessoal da reforma estava chegando. Falei para a Sol, que trabalha comigo, acompanhá-los e continuei na sala, com o meu filho.
Algumas horas depois, ele resolveu ir até o quarto buscar um dinossauro. Quando abriu a porta, viu aquele caos, o quarto vazio, os rapazes rasgando os papéis de parede e puxando-os para descolar, o chão imundo... Para quê? Gente, ele chorou tanto! Mas tanto! Rocco soluçava! Ele falava: “Meu quartinho, mamãe”.
Naquele momento, fiquei me sentindo a pior pessoa do mundo. Me coloquei no lugar dele: imagine chegar em casa e se deparar com alguém destruindo o seu espaço.
Eu peguei meu filho no colo e comecei a tentar acalmá-lo. Abri o projeto da arquiteta, que já tínhamos visto juntos, para lembrá-lo do que estava acontecendo, mas, de fato, errei totalmente o timing, por não avisá-lo no dia ou fazer um ritual de despedida do antigo quarto.
De repente, eu poderia pedir para ele ajudar nesse começo, nem que fosse apenas para se sentir parte daquele processo todo. Percebi o quanto ele se sentiu invadido. Aquele quarto é a vida dele; o espaço dele. E, sem mais nem menos, estava devastado.
Depois de algum tempo no meu colo (tive de levá-lo junto comigo para uma reunião), comecei a perguntar o que mais teria no quarto novo. Timidamente, ele soltou um: “hipopótamo”. Ufa! Sinal de que já estava absorvendo um pouco melhor a ideia.
Corri na escola e pedi para a professora perguntar também, e contar para os colegas que o quarto novo do Rocco seria de floresta. No final do dia, ele já estava todo todo, contando a novidade para a avó.
Isso me fez refletir sobre a importância dessa individualidade, que, às vezes, por eles serem crianças e vulneráveis, esquecemos ou desconsideramos. Achamos que os filhos são a extensão da nossa vida, porém, existe todo um mundo, uma privacidade, uma autonomia. E isso deve ser considerado pelos adultos sempre. Sempre, mesmo.
Mais uma lição para essa mãe, em eterna construção e reforma.
RAFA BRITES É APRESENTADORA, INFLUENCIADORA DE JORNADAS E MÃE DE ROCCO, 3 ANOS
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