
A soja é uma fonte nutricional importante para muitos — especialmente em dietas vegetarianas, veganas e em fórmulas infantis —, mas, para meninos, o consumo frequente e elevado pode exigir cautela.
Entenda os efeitos que o consumo em excesso de soja pode ter na saúde dos meninos
Freepik
Taboola Recommendation
Segundo Eliakim Massuqueto, urologista pediátrico da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), a presença de fitoestrógenos na soja — compostos vegetais com ação semelhante ao estrogênio — pode afetar o desenvolvimento hormonal masculino. “O consumo excessivo e frequente de fitoestrógenos pode levar a alterações hormonais, especialmente em meninos, podendo influenciar no desenvolvimento puberal, características sexuais secundárias e função testicular a longo prazo”, afirma o especialista.
Embora pequenas quantidades de soja na alimentação não costumem representar riscos, o médico explica que é prudente evitar o consumo diário e em grande volume — especialmente quando se trata de fórmulas infantis, leites vegetais, suplementos ou ultraprocessados à base de soja.
Além disso, ele reforça que fórmulas com soja devem ser avaliadas com o pediatra e o urologista, principalmente em meninos pequenos ou naqueles com histórico hormonal específico, sempre priorizando uma alimentação variada para que a soja não seja a principal fonte proteica.
Vitamina para criança com seletividade alimentar: entenda quando realmente é necessário
Estudos científicos, inclusive, já apontaram a importância da cautela no consumo desse alimento por meninos. De acordo com uma pesquisa publicada na revista Life Sciences, ratos machos expostos a isoflavonas da soja desde a fase pré-púbere apresentaram atraso no início da puberdade, redução nos níveis de testosterona e alterações nos hormônios LH e FSH, que regulam a função testicular. Os testes mostraram que, mesmo com diferentes dosagens, os animais apresentaram atraso puberal, sugerindo que o eixo hormonal masculino é especialmente sensível aos fitoestrógenos.
As alterações no desenvolvimento testicular também são foram constatadas em um estudo publicado em Toxicology and Applied Pharmacology, que analisou o impacto de uma dieta rica em soja em ratos recém-nascidos. Os pesquisadores encontraram maior proliferação das células de Leydig — responsáveis pela produção de testosterona —, porém com capacidade esteroidogênica reduzida na vida adulta. Houve ainda diminuição na produção de hormônio anti-mülleriano pelas células de Sertoli, indicando que a exposição precoce à soja pode alterar a maturação normal do tecido testicular.
Vale ressaltar, contudo, que apesar das evidências em animais, estudos em humanos mostraram um panorama menos conclusivo. De acordo com uma pesquisa clínica publicada no The Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism, bebês do sexo masculino alimentados com fórmulas à base de soja apresentaram desenvolvimento hormonal semelhante ao de bebês que consumiram fórmulas de leite de vaca. A pesquisa avaliou parâmetros como níveis de testosterona e LH, além de medidas anatômicas, incluindo comprimento peniano e volume testicular durante a chamada “mini-puberdade”, sem identificar diferenças significativas entre os grupos.
Quando as crianças podem começar a tomar leite de vaca?
Diante de todas as informações, o conjunto das evidências mostra que a soja não precisa ser proibida, mas sim consumida com moderação — especialmente durante fases mais sensíveis do desenvolvimento masculino. A recomendação de Massuqueto de variar as fontes de proteína, evitar o consumo diário e sempre discutir o uso de fórmulas infantis de soja com profissionais de saúde está alinhada tanto à prudência clínica quanto ao que a ciência disponível indica até o momento.
Fonte: Leia a matéria original