Tony Webeck sempre soube que queria se dedicar em tempo integral a sua família, antes mesmo de ter uma. Isso não fez com que fosse mais fácil largar a carreira que tanto lutou para construir, decisão que tomou com o apoio da esposa, apaixonada pelo próprio trabalho. "Quase tenho vergonha de admitir que, antes mesmo da minha carreira começar, tudo que eu realmente queria era ser pai em período integral", escreveu ele, em depoimento para o site australiano Essential Kids. Confira a íntegra:
"Era provavelmente a última coisa que eu deveria estar pensando naquele momento. Era meu primeiro ano na universidade, vivendo longe de casa pela primeira vez... Olhando para trás agora, 23 anos depois, é quase embaraçoso admitir que isso passou pela minha cabeça.
Caminhando pela cidade com uns colegas do dormitório, provavelmente indo a algum bar, parei na esquina e observei com o canto de olho uma família de quatro pessoas entrando no carro. Eu me lembro, tão claro como o dia, de pensar comigo mesmo: se eu pudesse avançar para esse ponto da minha vida, eu faria isso em um piscar de olhos.
Como eu disse, levando em conta tudo que vivi nos últimos anos, eu quase tenho vergonha de admitir que antes mesmo da minha carreira começar tudo que eu realmente queria era ser pai em período integral. Bem, esse dia chegou.
Ficando cada vez mais e mais decepcionado com a indústria, tomei a decisão de me afastar. Não foi assim tão simples. Houveram sérias discussões antes de eu e minha esposa chegarmos à simples verdade: ela não tinha horas suficientes no dia para uma carreira que ela amava e eu estava desperdiçando as minhas fazendo algo que eu já não gostava.
Então, nós trocamos de lugar e aquela aspiração de dedicar a maior parte do meu tempo aos nossos dois lindos filhos, um sonho que eu tinha antes mesmo de ter uma namorada, agora se tornou realidade. Eu me tornei o principal cuidador.
Eu gosto de pensar que eu ajudava o quanto era possível e que sempre fui um pai ativo na vida dos meus filhos, mas não há a menor dúvida de que as horas-extras no trabalho deixaram minha esposa lutando sozinha uma batalha para colocar todo aquele caos em ordem. Esse jogo virou agora.
Eu levo e busco as crianças na escola, na aula aeróbica na quarta-feira e no basquete na quinta. Eu preparo a maioria dos jantares e geralmente termino meus dias fazendo almoços para ganhar vantagem nas 24 horas que se seguirão. E eu amo isso, mas ainda há alguns ajustes a fazer, tanto na forma como eu me vejo, quanto a que os meus amigos veêm a nossa decisão.
Pais que trabalham sabem que as seis horas que as crianças estão na escola passam em um piscar de olhos e que quando você está tentando ganhar a vida como um escritor freelancer o dia de trabalho se estende das setes da manhã às nove da noite. Mas como homem, não posso negar que ainda há um estigma em largar seu trabalho integral para focar na família.
Muitos dos meus colegas tem feito o que colegas fazem, implicando comigo e dando incontáveis olhares duvidosos quando digo que estou trabalhando mais do que nunca. Eu tenho medo do que poderia acontecer se eu precisasse voltar ao meu campo no futuro, tendo me afastado de um lugar que trabalhei tanto para me estabelecer. Mas não há horas suficientes no dia para ficar pensando nisso agora.
Eu fui criado no que já foi considerada a família tradicional, onde meu pai trabalhava e minha mãe ficava em casa cuidando de nós três. Até que chegamos a uma idade em que ela teve que trabalhar em período parcial, para garantir que a comida continuasse chegando à mesa. Como um homem de 42 anos de idade eu fui criado para acreditar que minha função primordial era sustentar minha família. Agora, minha primeira responsabilidade é orientar meus filhos durante os anos escolares, para que eles consigam traçar sua própria carreira profissional. Que trabalho poderia ser mais importante que esse?"
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from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Familia/Novas-familias/noticia/2018/06/meu-desejo-secreto-de-ser-pai-em-tempo-integral.html